terça-feira, 26 de julho de 2011

Carta de recusa ao Prêmio PNBE

Este episódio é um bom exemplo do que Gramsci nos diz!!  

Natal, 2 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE
     Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor à educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994, esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo
prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (Editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecom e Casas Bahia, bem como políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
     A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores, sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
     Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
     Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel

terça-feira, 19 de julho de 2011

As Relações entre Ética e Estética na Educação na Perspectiva da Arte como Experiência

Monografia de autoria de Bety Corrêa, orientada pela filósofa Susana de Castro, analisa a proposta de Richard Shusterman de uma arte ligada à vida, baseada na obra de John Dewey, filósofo pragmatista.


Dada a necessidade da educação englobar aspectos éticos que levem os sujeitos a pensarem nas suas atitudes em relação aos seus grupos de convivência, a presente pesquisa procura investigar em que medida a educação através das artes pode contribuir para a formação ética do sujeito. O objetivo desse trabalho é investigar os elementos filosóficos da relação entre ética e estética e sua aplicação no campo da educação. Há uma tradicional oposição entre prática e estética que faz dessa última um campo à margem da práxis da vida, marcado pela ausência de finalidade e interesse. Partimos da teoria estética de Richard Shusterman, filósofo americano contemporâneo, que se baseia no resgate da obra de John Dewey, Art as experience, para desenvolver o projeto pragmatista no campo estético, o qual não pretende abolir a instituição arte, mas sim transformá-la de modo a resgatar seu valor ético e social. Nessa concepção a arte está radicalmente ligada à vida. Investigamos as relações entre ética e estética, discutindo o valor ético da arte e suas relações com a educação. A metodologia utilizada é a análise bibliográfica. Os resultados obtidos apontam no sentido de reforçar a importância da arte na formação humana, desde que haja uma visão crítica sobre as obras de arte e sobre as suas instituições.